Escrever sob escrutínio
A importância de ter a companhia e o olhar generoso de escritores experientes ou iniciantes compartilhando experiências de criação.
Olá!
Que bom ter você acompanhando minha jornada na produção do novo romance.
Você pode conferir as edições anteriores em nosso arquivo. E, se está lendo pela primeira vez, que tal assinar a newsletter Aprendiz de Escritora:
Vamos a mais uma cartinha?
Pesquisa e estudo como parâmetros
Há dois anos, estava bem animada para começar outro projeto de romance do zero. Desta vez, havia acrescentado a minha bagagem novos aprendizados e acumulado alguma experiência na arte de escrever.
Inspirada por uma conversa entre mulheres, vislumbrei um assunto interessante para uma nova história. Era um desafio ousar escrever sobre um tema novo, mas eu tinha uma pessoa em quem me inspirar.
Com uma premissa definida, imaginei uma personagem inspirada nesta musa real. A partir de sua personalidade e de sua trajetória de vida, construí um mapa mental. Logo eu tinha a ideia pronta para uma história completa.
No começo, havia incerteza quanto à construção do perfil da protagonista. A leitura de obras de não-ficção sobre o tema abria horizontes e me trazia segurança para continuar a empreitada. Ao mesmo tempo, procurava informações sobre a profissão desta mulher e sobre o assunto que eu desejava escrever.
Criei arquivos de cenas e de possíveis diálogos. Selecionei fotos que a representassem e aos outros personagens que iriam interagir com ela. Com os perfis de coadjuvantes delimitados, construí toda a escaleta do livro com a estrutura do romance e o esboço de todas as cenas até o final.
Em dez dias, eu tinha a estrutura pronta para iniciar o processo de escrita e desenvolvimento das cenas.
Projeto submetido a escrutínio
Na ocasião, eu participava do Ateliê de Narrativas com a Ana Rüsche. Uma das tarefas era justamente escrever o capítulo inicial de meu projeto atual e submetê-lo a análises na hora da aula. A esta altura, permitia-me ser uma escritora e estava, a cada dia, mais surpresa com as ideias surgindo.
Entretanto, confesso que me sentia incomodada com a exposição de meu texto a pessoas que ainda não conhecia bem, mas, ao mesmo tempo, disposta a melhorar o meu fazer literário. Sendo assim, submeti meu texto ao julgamento de minha mentora e a observações dos colegas de turma. Acatei as sugestões do Ateliê e ajustei a trama de acordo com a recepção do leitor. Arrumei a cena de abertura, com olhar atento a descrições e à ambientação. Escrevi, em seguida, um novo capítulo e continuei o trabalho nas próximas cenas.
A partir daí, passei a demorar mais na produção. Levava dois dias para escrever e editar um capítulo e pretendia acelerar isso. Pressionada com prazos do curso e aos que me propus, esforçava-me para fazer um trabalho de qualidade. Suscetível a comentários críticos e preocupada na hora de escrever, ainda assim, sentia-me segura em relação à criação de novas cenas. Seguia atenta às sugestões que recebia de meus colegas de turma - também no mesmo barco - e às orientações de minha professora. Consegui, aos poucos, concluir um capítulo em um dia.
Decidida a escrever sem parar até o fim da história, cheguei ao capítulo 5. Editei os novos capítulos, cortei cenas e arrumei outras. A responsabilidade de ter leitores críticos deixava-me mais criativa e mais atenta aos compromissos que a escrita envolve, já que havia tornado público o projeto.
Hoje em dia, olhando para trás, compreendo a importância de ter a companhia e o olhar generoso de escritores experientes ou iniciantes compartilhando experiências de criação. Paricipar de grupos de escrita tornou-se uma parte de meu fazer literário e isto é tão enriquecedor.
Na próxima cartinha…
Contarei como me senti ao me ver bloqueada, sem ideias e com meu projeto de escrita atrasado.
Lendo
Gelo, de Anna Kavan
As geleiras do mundo avançam sobre o planeta e o desastre é iminente. Animais e pessoas morrem de frio e da guerra entre as potências mundiais. Em meio ao desastre climático e à mortandade em volta, dois homens desejam a mesma mulher para possuí-la, amá-la, machucá-la e destruí-la. “Gelo é um romance poderoso e violento ao mesmo tempo. Fruto de uma autora que possuía uma visão radical sobre o desenvolvimento da humanidade no pós-guerra. A violência que ela apresenta em sua narrativa é apresentada com tamanha naturalidade que choca o leitor.” (Paulo Vinícius F. Santos)
Convite para você
O Coletivo Escreviventes, do qual tenho a honra de participar, promoverá uma Roda de conversa e leitura com as escritoras do Coletivo que residem no Rio de Janeiro e região.
Estarei lá para compartilhar experiências sobre as dificuldades e oportunidades que o mercado editorial tem oferecido às mulheres. Apresentaremos nossos livros publicados e falaremos sobre o nosso trabalho. Também leremos para o público algum trecho de poesia ou prosa.
Venha. A entrada é gratuita.
Roda de leitura em novo formato
Desde o mês passados, mudei o modo de apresentação de minhas rodas de leitura. Os encontros agora acontecem uma live no perfil @denisegals, no Instagram, na última sexta-feira de cada mês, às 19:00 horas de Brasília.
Se você deseja receber o lembrete do evento, a cada mês, clique aqui e preencha o formulário. Não enviarei spam, prometo.
Não é necessário ler a obra antes. Basta chegar, acompanhar a leitura e participar na caixa dos comentários.
Espero você em minha próxima live, no dia 30 de agosto, às 19 horas.
Para encerrar…
Gastei uma hora pensando em um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.
Carlos Drummond de Andrade. Poesia. Em Alguma poesia
Então, é isso.
Gostou desta edição? Deixe um comentário. Vou adorar.
Se desejar, compartilhe esta cartinha com outras pessoas que apreciariam este conteúdo.
Grata pela leitura e até a próxima!
Experiência compartilhada é aprendizado compartilhado!