Para quem escrevo?
Quando a história ganha mundo, as personagens podem inspirar e emocionar quem se identifica com elas.
Olá!
Que bom ter você lendo esta cartinha. Obrigada por acompanhar meu processo de escrita de romances.
Vamos a mais uma cartinha?
Inspirando vidas
Na cartinha anterior, falei sobre o sonho de ser escritora e como o agarrei com unhas e dentes. E da alegria de ver no “Café & Romance” publicado o sonho concretizado.
Hoje vou contar como foi receber as primeiras reações de quem leu o livro e se identificou com ele. E como é emocionante perceber que a história de meus personagens inspiraram mulheres que se identificaram com ela.
A minha voz na escrita
Para encontrar minha voz na escrita precisei me conscientizar sobre as razões pelas quais escrevo romances. E percebi que quero ser uma escritora que deseja naturalizar a presença da mulher de meia idade, e após ela, em todos os espaços na sociedade — profissional, afetivo, de lazer, acadêmico, político e onde mais ela quiser.
Incomoda-me que mulheres sofram etarismo em alguns lugares em que deseja estar e em posições que almeja alcançar. Então pensei: como expressar minha voz para escrever um romance com um tema tão polêmico e complexo, usando um tom delicado e envolvente?
Com personagens que retratem mulheres com as quais me identifico, foi a resposta que me dei. Mulheres que desejei ser um dia, mulheres que procurei ser ao longo dos anos, mulheres que ainda posso ser se eu quiser. Transpondo a barreira do preconceito, do etarismo, do silenciamento, do apagamento.
Mulheres que podem e são
Tenho recebido depoimentos de leitoras que confessaram a identificação com a jornada da protagonista que, de certa forma, é a de muitas mulheres também.
Mas hoje, fui surpreendida, particularmente, por um texto no Instagram de uma leitora querida, que definiu bem a sensação de ler o meu “Café & Romance”. Em seu post, ela relatou suas impressões após a leitura.
Reproduzo, abaixo, trechos que me emocionaram:
“Café & Romance” é o primeiro livro de Denise Gals que, durante a pandemia, decidiu entre um café e muitas ideias, escrevê-lo. E em meio ao caos em que o mundo vivia, buscou equilíbrio, muita pesquisa e dedicação em sua própria escrivaninha.
Daí o resultado é um romance estruturado de modo criativo e sedutor que me fez ler 200 páginas em duas tardes.
O romance mostra a jornada de Diana, uma mulher madura que busca, através do autoconhecimento e realização dos seus sonhos, superar alguns traumas e romper umas poucas “amarras” existentes, mas invisíveis, que ainda limitam sua vida e liberdade em plenitude como mulher.
O livro nos leva a uma reflexão sobre amizade, amor, relacionamentos de abuso psicológico e o nosso eterno “medo de ter medo”, que tantas vezes nos paralisa.
Amei o livro, devorei. Gostei do Hugo ter voz, e não só a Diana. Homens também têm seus traumas, medos, inseguranças. E, sobretudo, ainda não sabem lidar com essas novas mulheres.
O amor do Hugo é exigente e impositor. Um típico Mr. Darcy. A questão é que as mulheres de hoje não são Lizzie Bennet; são (ou gostaria que fossem) mais Diana Almeida.
Alcançando quem eu queria alcançar
Ler este e outros depoimentos que chegam em minhas caixas de mensagens é surpreendente para mim. Ouvi e li mulheres me acusarem de atrapalhar o sono delas, sob o efeito de “só mais um pouquinho “ que o romance lhes provocou. E como se identificaram com as personagens e situações que desencadearam reflexões, gatilhos, sorrisos e lágrimas.
Fico espantosamente feliz ao saber que minha escrita está alcançando mulheres (e homens também, espero) em busca de autoconhecimento e de realização, sem se anularem ou anularem um ao outro.
Obrigada, Beth e todas vocês que me enviaram reações emocionadas ao “Café & Romance”. Sou grata por esta confiança e pelo carinho que me estimula a querer continuar a escrever.
Quero me manter atenta para que minhas palavras transmitam conceitos e ideias que tragam alguma transformação. Nas personagens e em quem me der o prazer de as ler.
Uma palhinha
Hugo desligou o celular e tentou assistir a uma palestra sobre Direito Empresarial no computador. Entretanto, só conseguia pensar no ocorrido de horas antes. Começou a se culpar por ter botado tanta pressão sobre Diana. Por não ter tido empatia com seus traumas da relação anterior. Só se concentrara nele, em seu desejo, em suas necessidades.
Odiou-se por amá-la tanto. Parecia loucura que tivessem passado três anos felizes e que, agora, fossem ficar separados. Sentiu um nó na garganta. Uma vontade incontrolável de abrir mão de seu orgulho e voltar correndo ao apartamento dela.
Desligou o vídeo e saiu apressado.
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A chuva fina havia diminuído. Diana colocou uma jaqueta jeans sobre a blusinha de tricô e desceu para comprar comida.
— Ah, você me assustou!
Hugo, parado diante do interfone, procurava o número do apartamento dela.
— Diana, isso de dar um tempo não vai dar certo. Por favor, me desculpe. Fui intransigente. Fui, sim. Vamos tentar mais uma vez?
Fragmento de “Café & Romance”, de Denise Gals.
Lendo
Charlotte, de David Foenkinos
Charlotte, conta a história da pintora alemã Charlotte Salomon. Um resumo de uma vida amarga, uma história sombria, comovente, impactante com muita depressão, suicídios e a guerra. Charlotte tentou se manter viva em sua arte retratando o amor obsessivo que viveu. Ainda não sei como me sinto em relação a esta leitura. O clube do livro nos leva a enredos que talvez não enfrentássemos, não fosse o desafio que aceitamos de ler obras variadas.
O Manual da Faxineira, de Lucia Berlin
Este é um livro sobre como ser mulher, sobre mulheres reais. Eu, você, sua mãe, sua vizinha. É a nossa voz, o nosso sentimento, a nossa realidade. Vou ler um conto dela em nossa conversa da próxima roda de leitura "Só Românticos".
Aliás, convido você a fazer parte de nossa roda, no dia 16 de setembro, sábado, às 16 horas. Para se inscrever, é só clicar aqui.
Na próxima cartinha
Vou contar como foi ter leitoras beta interagindo com minha história, durante a produção das cenas, e a sensação de receber as primeiras devolutivas de outros escritores nas oficinas de escrita.
Para encerrar…
“O que eu espero conseguir fazer é, por meio da utilização de detalhes intricados, tornar essa mulher tão verossímil que você não tenha como deixar de se compadecer dela”.
Lucia Berlin
Então é isso.
Espero que tenha gostado desta edição e se sinta com vontade de deixar um comentário. Vou adorar.
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Grata pela leitura e até a próxima!
Esperando meu livro chegar ansiosa... 😃