Queremos ver o circo pegar fogo
O romance deve despertar as mais variadas emoções e sensações – de amor e ódio entre os personagens e incendiar a imaginação durante a leitura.
Olá, que bom ter você aqui!
Agradeço por abrir mais uma cartinha e acompanhar a jornada na segunda etapa de escrita de meu primeiro romance.
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Vamos a mais uma cartinha
Na edição passada, compartilhei a fase seguinte ao término do texto editado: a avaliação de uma profissional. Como ela detectou os pontos fortes e pontos fracos da narrativa e sugeriu alterações no desenvolvimento da história.
Nesta carta, falarei sobre como foi submeter o original editado à análise de uma leitora beta. A sensação esquisita de ter minha história recebendo as primeiras impressões de um público.
A generosidade da leitora
Após concluir os ajustes sinalizados por minha professora de escrita, fiz uma nova edição no manuscrito inteiro. A esta altura, havia avançado nos estudos e recebia orientação profissional no Ateliê de Narrativas da Ana Rüsche. Éramos incentivados a ler os originais dos colegas como leitores beta.
Quando recebi um e-mail da Rachel, uma das colegas de turma, oferecendo-se para ler meu original, senti um frio na barriga. Feliz pela disponibilidade e generosidade, terminei mais alguns ajustes na segunda versão. O manuscrito revisado havia sido analisado pela mestra Ana Rüsche e eu fizera mais alterações importantes na estrutura e na trama.
Este estágio era muito importante. Antes, no primeiro rascunho, as devolutivas de minhas amigas que liam as cenas conforme eu as ia escrevendo me deixavam à vontade. Outras pessoas bem próximas a mim também leram meu texto e me mandaram impressões que culminaram em mais revisões.
Agora era bem diferente. O texto havia passado pelo crivo crítico de duas profissionais da área. Sofrera modificações que, eu acreditava, o deixavam mais redondinho. Mas senti medo da leitura beta. Porque ela representava o público leitor. E eu tremi ante a reação dela ao ler o livro pronto.
Assim, enviei o manuscrito editado à leitora beta, com algumas questões para ela observar. Conforme os dias iam passando, a tensão aumentava. A expectativa era a pior possível. Minha história seria considerada uma porcaria e eu deveria engavetar meu projeto de romancista.
Então, a resposta chegou. Uma devolutiva com observações detalhadas de uma leitora perspicaz. Foi um misto de alívio e de preocupação.
A análise “crica”
A primeira observação me deixou sem conseguir respirar. A Rachel observou que havia seguido à risca minha orientação de ser bem crítica. E assim foi.
“Eu fui crica, muito crica, mas a verdade é que me diverti muito lendo. Ele teve em mim essse efeito do ‘só mais um capítulo’ e me vi acordada lendo sem conseguir dormir com a hipe do texto”, ela escreveu no e-mail. Preocupação e alívio, de novo.
As observações seguiram, a respeito da construção dos personagens. O olhar da escritora Rachel sobressaía ao da leitora, e ela foi mostrando os pontos fracos de cada um. O mesmo ocorreu em relação à temporalidade, à continuidade e a algumas questões técnicas de adequação à realidade. Apontou passagens sensíveis e incômodas no comportamento de alguns personagens, embora verossímeis.
Ao final, sinalizou que sentiu falta de mais embate, de enfrentamento entre as personagens e de situações antagônicas. Lembrou-me a professora Ana Rüsche dizendo que os leitores querem ver o circo pegar fogo.
Além dos comentários, Rachel me enviou um arquivo com anotações ao longo do romance inteiro. Um trabalhão. Senti-me lisonjeada e envergonhada, ao mesmo tempo, por ela ter se prontificado a fazer uma análise tão detalhada, generosamente.
Ainda não estava certa se conseguiria publicar o romance, mas, quando isso acontecesse, o exemplar de minha leitora beta crica estava garantido. Adivinhem qual foi a primeira pessoa a quem enviei o livro, logo que a editora disponibilizou a venda? Exatamente: a Rachel.
Fogo no parquinho
Durante alguns dias, analisei as sugestões de cenas que poderiam dar um tchan a mais na trama. Queria deixar a história ao gosto de quem o lesse, embora sentisse dificuldade em mostrar minha protagonista fazendo um barraco, hehe. Eu a amava como ela era.
A partir daí, reescrevi tudo que foi possível, a fim de tornar a história mais cativante, interessante. O romance precisava despertar as mais variadas emoções e sensações – de amor e ódio - entre os personagens e incendiar a imaginação durante a leitura.
Após a revisão do original, recebi nova avaliação de minha professora Ana e aperfeiçoei ainda mais (penso) o manuscrito. Espero ter conseguido botar fogo no parquinho. Enquanto registro a jornada para escrever meu romance, muitas pessoas já o leram ou o estão lendo. Mandem suas impressões para mim, por favor!
Na próxima cartinha
A etapa seguinte seria enviá-lo para preparação e revisão do original pronto. Este será o assunto da próxima edição: a análise completa do original por uma preparadora e revisora profissional.
Uma palinha
— Hugo anda num mau humor que Deus me livre! — Luci contou uma semana depois. — Tá sempre emburrado e reclama de tudo e de todos no escritório. Carlos pediu pra você dar um jeito nisso logo.
— Quem disse que aquele turrão atende minhas ligações e mensagens, Lu? Expulsei o Hugo daqui. Ele disse que eu não precisava mais dele. — Diana sentou-se na escada do mezanino e esfregou o rosto. — E ainda tem tanta coisa pra resolver...
Diana preferia continuar ouvindo as recomendações irritantes de Hugo àquela ausência terrível. Esperava que ele aparecesse a qualquer momento como se nada tivesse acontecido. “Desculpe, eu me excedi, imagina se eu ia deixar você na mão”, ele diria.
Assustava-a esse seu lado obstinado. Meticuloso, esteve presente nos últimos meses, todos os dias, após o trabalho no escritório. Verificava o andamento das obras, atento aos mínimos detalhes. Até se aborrecer e abandonar tudo.
Fragmento de “Café & Romance, de Denise Gals.
Lendo
A Praça do Diamante, de Mèrce Rodoreda
Acompanhar a vida da personagem Colometa é mergulhar em tempos difíceis, com a mensagem que sobrevive: a resistência. Ela resgata sua estória de vida perpassando ao fundo todas as turbulências da história espanhola entre as Grandes Guerras e sua própria Guerra Civil. Em meio a todo o horror, as notas de esperança e de um amor dos mais puros. Maravilhoso.
Afirma Pereira, de Antonio Tabuchi
Em meio à agitação que Portugal vivenciou durante o regime Salazarista, o personagem Pereira, um jornalista, ignora toda a turbulência e somente se interessa pela literatura que é o foco da página cultural no jornal Lisboa em que ele é diretor. Ainda não me encantei com a trama, mas estou no comecinho ainda. Foi recomendado pelo Clube do livro e leitura de Ribeirão Preto.
Para terminar
…ainda que no mundo haja tanta tristeza, ele sempre ainda pode ser salvo por alguém com pouco de alegria.”
Mercè Rodoreda
Então é isso!
Agradeço, de novo, por você me acompanhar até aqui. Se gostou, deixe um comentário. Vou adorar.
Se desejar, compartilhe esta cartinha com alguém que poderia apreciar o conteúdo.
Se ainda não leu o meu livro “Café & Romance”, aproveite que está disponível na loja virtual da Editora Pedregulho, neste link aqui. Ou você pode solicitar um exemplar direto comigo.
Até a próxima cartinha!